Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens com o rótulo a escolha

a escolha #4.

se para ele aquele mesmo instante de êxtase tinha se tornado um martírio, agora já não se tratava simplesmente de uma questão profissional. as intermitências do tempo, esse grande brincalhão, haviam lhe trazido um novo desafio, assim como o mar, outrora revolto, no momento de calmaria traz os restos do barco afundado. a questão agora se tornara estritamente pessoal, coisa que não havia acontecido em todos esses anos de prática da temida (e redentora) Escolha. aquela moça lhe intrigava tão profundamente que queria ser capaz de causar nela dor muito mais fustigante que o suspiro lépido da morte. precisava pensar em como se vingaria da única pessoa que conseguira escapar do seu julgo até ali. acalmou-se, fitou o horizonte tímido que ali surgia. recostou-se na poltrona e contemplou a primeira estrela que já surgia no céu. deixou que o tempo agisse, à partir dali. iria ter sua vingança, cedo ou tarde. o desafio contra a moça de cabelos curtos e lábios carnudos estava lançado... pra quem...

a escolha #2

virei as costas e dei alguns passos, com o cigarro aceso na mão esquerda, a outra enfiada no bolso da calça. a chuva só não me açoitava o rosto por causa do capuz que eu usava. de repente me senti observado, não pelos olhos que eu tinha deixado mareados, ali, há poucos metros para trás, mas por outros olhos, distantes, frios, redentórios. continuei caminhando, olhando pro prédio à minha esquerda. um brilho, de espelho, refletindo alguma luz, me bateu nos olhos. soube que tinha pouco tempo. me despedi mentalmente dela. dei o último trago no cigarro e joguei a bituca no meio fio. uma bala atravessou meu peito, antes mesmo da bituca tocar o chão. fui o escolhido. assim, fica marcada a dor em mim. câmbio, desligo.

a escolha #1

amanhece um dia bonito, ensolarado, por aqui.eu, do alto dos meus 58 anos nunca vi - juro! - amanhecer tão deslumbrante!o cigarro na minha mão esquerda, tão perto do meu rosto a ponto de poder ouvir o estalar do tabaco queimando, está no começo, e eu me ponho a pensar em quem será o meu objeto do dia.ah sim, todos os dias eu me ocupo com alguém, um estranho, uma pessoa qualquer que esteja passando por aqui, pra ser o meu trabalho do dia. isso requer certo grau de paciência e muita observação. precisa ser a pessoa certa, que se encaixe perfeitamente nos meus critérios, predispostos e planejados por eu mesmo, para essa tarefa diária.essa ocupação já foi oficial, quando eu servia o exército do meu país, antes de me aposentar.sempre achei que fosse essa minha vocação, por isso empreguei tantos esforços pra fazer o meu melhor, pra me doar ao máximo pra isso.acredito sim em pessoas que nascem destinadas a serem algo, seria uma contradição fortíssima não acreditar. mesmo que essa habilidade n...