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Mostrando postagens com o rótulo autobiográfico

saudade.

ele esperava. nunca chegava no horário, mas hoje tinha conseguido ser pontual. a impaciência - pontuada por passos curtos daqui pra lá - era efeito da pontualidade dela, que sempre chegara antes dele. ela chegou, olhando-o com uma expressão de desculpas, com o mesmo andar sereno de todas as vezes. - oi. e aí? - ele disse. - tudo bem. e aí? - respondeu ela. ele abriu um sorriso e disse: - aí. (...) (eu vivo tão sozinho de... saudade.)
escrevi uma cena linda, dentro da minha cabeça. qual não foi minha surpresa ao notar que Ela podia se mostrar cada vez mais bonita, a cada dia que passa. em cada trejeito, cada palavra. cada vez que eu a olhava...

augusta diário.

03h35 da manhã. meu sono foi embora, assim que você chegou. eu quis te beijar, te sentir bem perto. esquecer do mundo la fora, de todas as buscas que ainda me atormentam e só pensar no quanto as coisas mais simples parecem tão perfeitamente acomodadas quando você está por perto. lembrei de uma coisa bonita que escrevi, muito tempo atrás. quis te mandar. ainda não o fiz, pois o Wilco tocando aqui me fez perder a noção de tudo. Jeff Tweedy devia virar estátua quando morresse, e ser entitulado "O faquir da dor", como já diria o tio Jards Macalé, tão sabiamente. me lembrei de como tudo é tão cruel pra todos nós, hoje em dia. de como todas as coisas nos fazem sofrer. da pressão do dia-a-dia, da rotina que mata os sonhos, da falta de cuidado e zêlo entre as pessoas. nada disso pode abalar-me as estruturas agora. nada disso tudo que já me abalou. fecho os olhos. unhas vermelhas (mais precisamente Vermelho Paixão)passam pelo meu braço, enquanto cada um dos meus vários pelos se arrepi...

sobre o que ninguém entende (e nunca poderá entender, obrigado).

Na pressa de encontrar motivos me perdi. O Sol, a essa hora já se pondo, refletia a minha imensa falta de vontade em viver. Balbuciei palavras, friamente. Retive nos olhos as expressões mais contidas. Enganei a todos. Acharam que eu iria pra rua, ser aquele por quem todos lamentam, o cara que não deu certo. Mas eu tenho o dom de me reconfigurar. A singela aptidão de transformar o meu calvário em redenção, e isso sem mostrar nada, pra ninguém. Por quê? Porque ninguém entende. Ninguém poderia. O meu modo de vida é sim, arcar com o mal. Sobre amá-lo, eu faço tipo. O que eu amo é entrar numa rua, num bar, numa casa, respirar fundo e sentir o cheiro da alegria. Ouvir acordes enquanto quase passo mal de tanta admiração. Sentir as coisas, do jeito que eu não sentia. O sangue correndo nas minhas veias, oxigenando o meu pobre cérebro. "get on the turkish line you've never written a diamond under my door i'm through this door..." ouvindo Vanguart - Beloved.

sexta-feira 10.

entrei em casa e ela já me olhava do alto. joguei o casaco na poltrona no canto da sala, beijei meu pai, desci as escadas pro quarto. liguei o computador, coloquei um som calmo, entrei no banheiro e escovei os dentes. logo depois, me despi, abri o box e entrei, girei o misturador e a água fez massagem nas minhas costas. fria. odeio esse chuveiro que não segura a temperatura. ajustei no misturador de modo a esquentar a água, peguei o xampu e esfreguei a cabeça cantando a próxima da lista. terminado o banho me enrolei na toalha. saí pro quarto, peguei a calça, a mesma de sempre, o único jeans que me resta, vesti as pernas, fechei o botão. peguei lá fora a tábua de passar. algo manchou justamente a camisa que eu tinha escolhido pra hoje. que saco! achei uma outra, melhor alternativa, liguei o ferro cantarolando: "Guarda os olhos nas palavras/Desinteressada, logo vira o rosto/E a página". camisa passada, desodorante, um pouco d'água pra lubrificar a garganta tão maltratada a ...

mono tonia.

a televisão ta muito alta. o vizinho tem criança pequena, já passam das dez, e eu to morrendo de frio sentado em frente a essa tela. desligaram o compartilhador de arquivos na empresa, e com isso eu não posso colocar minha atenção no projeto ao qual planejei me dedicar essa noite. a voz não estava boa, antes da janta. toquei três músicas que exigem muito dela, sempre, e foi ruim. ela me chama na janela piscante ali embaixo. a cadela se engruvinhou no sofá, deve estar com frio também. penso que é bom não estar chovendo. desvio a atenção pra televisão, ta passando o jogo de futebol. dou de ombros, futebol não tem mais o mesmo gosto pra mim. vou continuar baixando os quadrinhos, coisa que me fascina nos últimos dias. penso de repente, que eu podia estar fazendo algo mais produtivo agora. . . . . . . . é. monotonia é bom. não acontece coisa boa, mas coisa ruim também não há...