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lapso.

ele entrou na garagem, sentou no carro e parou com a mão na chave no contato. pensou em tudo o que ela lhe dissera no momento anterior, sobre como ele não tinha qualquer interesse nela, sobre o fim. recostou a cabeça no banco e fechando os olhos, adormeceu.
acordou em outro carro, de outra cor, no meio da estrada. teve dificuldade pra controlar o veículo. tentava se lembrar de como tinha ido parar lá. de repente, ao seu lado, ouviu:

- Amor, você tá legal?
- Tati???? - disse ele com cara de quem chupou limão.
- E quem mais seria, André?
- É... É... Quem mais?

sorriu. pisou mais fundo no acelerador, o vento batendo nos cabelos que lhe açoitavam o rosto. a curva que vinha pela frente seria mais que uma curva. no começo dela ele recostou a cabeça comodamente no banco, e de novo adormeceu.
acordou num sofá, em frente a tevê. o noticiário despejava tragédias sensacionalisticamente. sentia sede, muita sede. levantou, sentiu-se tonto, apoiou-se no que pode pra chegar até a cozinha. o filtro estava vazio. andou até a geladeira, abriu, e disse:

- Tati?

ela sorria, rija, como se estivesse paralisada.
André fechou a geladeira e se encaminhou pro corredor pensando: "Onde será que se enfiou minha mulher, do pescoço pra baixo?"

(já era o sexto casamento...)

Comentários

Karla Marrocos disse…
lendo agora de novo eu pensei que esse texto me lembra o sonho horrível que eu tive essa tarde. sabe essa mudança de ambiente?
Marta Pinheiro disse…
"Onde será que se enfiou minha mulher, do pescoço pra baixo?" HAHAHA incrível! só você pra escrever essas coisas!
Jaya Magalhães disse…
Não vai parar no sexto.

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