muito barulho por nada (ou a arte de parafrasear shakespeare sem dar sequer a mínima pra tudo o que ele disse).
era uma vez a Cidade Perfeita.
lá tudo funcionava perfeitamente: não havia lixo na rua, não se viam mendigos ou crianças abandonadas, todos estavam inseridos na sociedade e dela participavam ativamente. não havia corrupção, os ônibus nunca estavam lotados. e é de dentro de algum desses veículos que o nosso amigo Reginaldo começou a revolucionar.
vinha ele com seus fones de ouvido, o terno alinhadíssimo, postura ereta.
sentou-se numa poltrona vazia. não havia ninguém do lado. até uma moça entrar pela porta do ônibus, girar a catraca e aproximar-se dele. ela já era conhecida de vista de Reginaldo, tomavam a condução juntos quase todos os dias. sempre se entreolhavam, um sentado num banco à frente do veículo, outro sentado mais atrás. estavam sempre se esbarrando. mas Reginaldo nunca tinha se proposto a ir falar com a moça. hoje porém, achava que seria diferente. observou os movimentos esguios da guria, com olhar atento. ela veio, procurou por um lugar vazio, e sentou-se exatamente do lado de Reginaldo, encostando de leve seu braço no dele, com um sorriso no rosto.
o rapaz ficou eufórico.
de repente, a moça notou um barulho estranho. e vinha de reginaldo. ela levantou-se imediatamente, assustada, levou a mão à boca.
Reginaldo percebeu, e assustou-se também.
depois disso, os demais no ônibus também perceberam, e ficaram muito alterados.
queriam tirar o rapaz do ônibus. temiam por sua saúde, podia ser uma epidemia nova, pra ameaçar a perfeição da rotina da cidade e de sua população.
reginaldo tirou os fones, e então pode conferir o porquê de tanto espanto. o barulho era ensurdecedor.
o ônibus parou. motorista e cobrador pediram aos demais passageiros que se afastassem do rapaz barulhento.
vieram os jornais, a polícia, o exército, a igreja.
todos queriam ver o que estava ameaçando tanto assim a vida na Cidade Perfeita.
foram horas de conversação e ponderação entre os poderes públicos da cidade. ninguém sabia o que fazer com Reginaldo.
o rapaz estava já em agonia. não podia descer do ônibus, nem ir ao trabalho, nem voltar para casa. não podia estar perto da moça, a quem ele tanto queria bem.
era noite já, quando a decisão foi tomada pelas autoridades: implodiriam o ônibus, bem como tudo (e todos) que dentro dele estivessem.
Reginaldo deu adeus à sua amada de longe, vertendo uma única lágrima.
o estrondo. a fumaça. todos ficaram apreensivos.
do meio dos escombros, ferro retorcido e derretido via-se uma luminosidade rosada saindo.
um funcionário dos bombeiros foi ao local, devidamente protegido por uma vestimenta anti-radioatividade, revirou os escombros, e encontrou o tal objeto luminoso.
era um coração. radiante e intacto.
e acreditem, ainda pulsava...
foi assim que a Cidade e Reginaldo aprenderam, da pior maneira, que o amor assusta.
lá tudo funcionava perfeitamente: não havia lixo na rua, não se viam mendigos ou crianças abandonadas, todos estavam inseridos na sociedade e dela participavam ativamente. não havia corrupção, os ônibus nunca estavam lotados. e é de dentro de algum desses veículos que o nosso amigo Reginaldo começou a revolucionar.
vinha ele com seus fones de ouvido, o terno alinhadíssimo, postura ereta.
sentou-se numa poltrona vazia. não havia ninguém do lado. até uma moça entrar pela porta do ônibus, girar a catraca e aproximar-se dele. ela já era conhecida de vista de Reginaldo, tomavam a condução juntos quase todos os dias. sempre se entreolhavam, um sentado num banco à frente do veículo, outro sentado mais atrás. estavam sempre se esbarrando. mas Reginaldo nunca tinha se proposto a ir falar com a moça. hoje porém, achava que seria diferente. observou os movimentos esguios da guria, com olhar atento. ela veio, procurou por um lugar vazio, e sentou-se exatamente do lado de Reginaldo, encostando de leve seu braço no dele, com um sorriso no rosto.
o rapaz ficou eufórico.
de repente, a moça notou um barulho estranho. e vinha de reginaldo. ela levantou-se imediatamente, assustada, levou a mão à boca.
Reginaldo percebeu, e assustou-se também.
depois disso, os demais no ônibus também perceberam, e ficaram muito alterados.
queriam tirar o rapaz do ônibus. temiam por sua saúde, podia ser uma epidemia nova, pra ameaçar a perfeição da rotina da cidade e de sua população.
reginaldo tirou os fones, e então pode conferir o porquê de tanto espanto. o barulho era ensurdecedor.
o ônibus parou. motorista e cobrador pediram aos demais passageiros que se afastassem do rapaz barulhento.
vieram os jornais, a polícia, o exército, a igreja.
todos queriam ver o que estava ameaçando tanto assim a vida na Cidade Perfeita.
foram horas de conversação e ponderação entre os poderes públicos da cidade. ninguém sabia o que fazer com Reginaldo.
o rapaz estava já em agonia. não podia descer do ônibus, nem ir ao trabalho, nem voltar para casa. não podia estar perto da moça, a quem ele tanto queria bem.
era noite já, quando a decisão foi tomada pelas autoridades: implodiriam o ônibus, bem como tudo (e todos) que dentro dele estivessem.
Reginaldo deu adeus à sua amada de longe, vertendo uma única lágrima.
o estrondo. a fumaça. todos ficaram apreensivos.
do meio dos escombros, ferro retorcido e derretido via-se uma luminosidade rosada saindo.
um funcionário dos bombeiros foi ao local, devidamente protegido por uma vestimenta anti-radioatividade, revirou os escombros, e encontrou o tal objeto luminoso.
era um coração. radiante e intacto.
e acreditem, ainda pulsava...
foi assim que a Cidade e Reginaldo aprenderam, da pior maneira, que o amor assusta.
Comentários
Esse negócio ficou muito bom!
Quanto ao que tu escreveu no meu blog, tu tem liberdade para musicar qq porcaria q eu escreva sempre. E fico lisonjeado com qq lembrança do Dorival nesse caso. Abraço.
=D
genial o texto!
um beijo!
obrigada pela visita, adorei seu blog, vou coloca-lo nos favoritos! beijão
pra que tanto medo?
{causa pânico delicioso}
demais! adorei!
amor assusta mesmo. muito. mas no final é tão bom...
:P
Amor?
"There's no love in modern life..."
Porém milagres acontecem, bom prá você... né pequeno?
Você merece.
me recomendaram esse texto aqui!!!!
e eu gostei muito!
parabéns!
um abraço!
Ótima adaptação.